No vasto campo da leitura, a cada dia conheço um escritor
ou livro novo, e minha vontade de lê-los aumenta e se perde na imensidão da
lista do "Quero Ler". Nesta crescente agregação de livros e
autores/escritores surge a sensação de falta, de não conseguir dar conta de
tanta leitura.
Como este é um fator conflitante,
gerando bastante reflexões, aderi um dos ensinamentos que a leitura do Poder do
Mito (Joseph Campbell) trouxe-me, o de ler autores e escritores citados por
escritores que gosto. Assim, vou delimitando minha lista e conhecendo livros
dentro da minha linha de reflexão e filosofia.
Um dos escritores que tenho maior
admiração, é o brasileiro Rubem Alves. Conheci seu trabalho através do capítulo
Amiga Solidão do livro "Na morada das palavras", discutido em uma
aula de teatro. Só posso descrever paixão pelas suas palavras, seus livros me
ajudam a desocultar uma simplicidade e amplitude até então escondidas em mim.
Ler livros citados por escritores
que gosto, pode parecer limitador de outros livros fora desse campo, porém, de
qualquer forma estarei deixando de lado alguns livros, é quase impossível ler
todos os escritores.
Graças a Rubem Alves venho
conhecendo escritores até então não explorados, por isso, criei a tag Direto de
Rubem Alves, espaço no blog que dedicarei a resenhas e considerações de livros
que li a partir deste autor.
O primeiro post será dos livros de poesia, da Cecília Meireles. Antes, nada compreendia de
poesia, li algumas na época do ensino médio e não sentia nada, passei
despercebida por elas. Agora, depois de anos não consigo me ver sem o toque da
poesia, são versos sem explicações conhecidas na nossa dinâmica objetivista e
cotidiana, que me enchem de acolhimento.
Cecília Meireles em mim tem o poder
de ferir, colocar para fora minhas feridas e novamente estancar o sangue com
suas palavras. São versos e mais versos que enchem meu dia de nova sonoridade,
e beleza. Para ser sincera, antes de adentrar em seus livros já tinha dois
poemas dela na ponta da língua, que repetia constantemente Retrato e Motivo.
Repetia sem pensar, repetia e repito por me tocar, dar voz aos meus
sentimentos.
Cada poema cabe em um dia, selecionei os que hoje estão me
fazendo pensar, amanhã já será outra coletânea, mas vou deixar fixo estes no
post.
Canção
Excêntrica
Ando
a procura de espaço
Para
o desenho da vida.
Em
números me embaraço
E
perco sempre a medida.
Se
penso encontrar saída,
Em
vez de abrir um compasso,
Protejo-me
num abraço
E
gero uma despedida.
Se
volto sobre o meu passo,
É
já distância perdida.
Meu
coração, coisa de aço,
Começa
a achar um cansaço
Esta
procura de espaço
Para
o desenho da vida.
Já
por exausta e descrida
Não
me animo a um breve traço:
-
Saudosa do que não faço,
-
Do que faço, arrependida.
Humildade (1954)
Tanto
que fazer!
Livros
que não se leem, cartas que não se escrevem,
Línguas
que não se aprendem
Amor
que não se dá
Tudo
quanto se esquece.
Amigos
entre adeuses,
crianças
chorando na tempestade,
cidadãos
assinando papeis, papeis, papeis...
até
o fim do mundo assinando papeis.
E
os pássaros atrás de grades de chuva
e
os mortos em redoma de cânfora
(E
uma canção tão bela!)
Tanto
que fazer!
E
fizemos apenas isto.
E
nunca sabemos quem éramos
nem
para quê.
4º Motivo da Rosa
Não
te aflijas com a pétala que voa:
também
é ser, deixar de ser assim.
Rosas
verá, só de cinzas franzida,
mortas,
intactas pelo teu jardim.
Eu
deixo aroma até nos meus espinhos
ao
longe, o vento vai falando de mim.
E
por perder-me é que vão me lembrando,
por
desfolhar-me é que não tenho fim.
1 comentários:
Gostei de ler sobre os escritores que gosta e sobre a Cecília Meireles, poeta que muito admiro e que faz parte da minha estante de poesia.
Uma boa semana.
Beijos
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