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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Perdão...

Imagem: We heart it

Abrir a porta do perdão, não é esquecer, nem tirar da memória.
Ao contrário, é lembrar, trazer a tona e se apropriar do que foi dito, não dito, amado e odiado,
Carregar como seu. Como parte da sua caminhada.
Sem o gosto amargo da falta, do poderia ter sido, do talvez, e o “se” continuamente exclamado. Poderia, mas não foi.
Não é.
O perdão entra na esfera do aceito, e aceitar não como a isenção de opções, e sim, a compreensão das condições que levaram tal vivência, com suas emoções e afetos.
A perfeição,
A busca pelas escolhas certas, ilude, vira o jogo para o que a existência humana não é, acabada e completa.
Perdoe, pois, somos faltas. Andressa Giacomini

domingo, 6 de novembro de 2016

Choro porque choro, e isto já me basta.

foto weheartit
Choro engasgado, preso, sem uma explicação plausível para ceder. Se perguntares o que há? Apenas as lágrimas irão responder.
Lágrimas quentes e finas, calmas e tortuosas lavam meu rosto, e enchem meu corpo de sadia melancolia.
Meu nariz arde e tento segurar o choro, só porque o ambiente não pede alarde. É preciso suprimir as lágrimas, trancá-las na gaveta mais profunda da alma. Eles não podem saber que choro, sem ter um motivo trágico. Choro porque existo, e existir traz a dor em ser.
Já busquei decifrar, em vão, o porquê de chorar com tanta frequência, se a soma dos meus afazeres é favorável, tenho trabalho, arte, espaço e laço.

E só cheguei ao choro em sua forma mais pura e crua. Choro porque choro, e isto já me basta.

sábado, 30 de julho de 2016

A surpresa da chegada

Weheart it
Se chegar cedo, traga-me um café, preciso de animo para ficar em pé.
Dividiremos os bocejos preguiçosos da manhã e para ti darei um abraço quente, terno, de quem se embalou por horas adentro no aconchego da cama.
Na minha vez, não direi a que horas chegarei.
Deixarei a surpresa, do não esperado ter seu regalo e nos banhar com afagos.
Talvez uma faceta de susto, permaneça em você. Pode ser que me acolha em seus braços, ou que a frieza o mantenha distante.
Depende do seu dia, de sua disposição momentânea em me ver.   
São riscos acarretados pelo imprevisto, o não planejado e a incerteza em ser.
Andressa Giacomini

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Deixa a delicadeza transbordar

foto by me
Parece que a delicadeza não chama mais a atenção, vem associada à fragilidade, a incapacidade de suportar as adversidades. A moda agora é a de demonstrar ser forte, impenetrável pelas forças alheias.
Talvez, por isso, que as flores perderam sua vez, e o concreto é o que rege, ele não se mexe, não tem fluidez. Fica intacto, barra o vento e nos protege do mundo sombrio, das relações.
Essas classificações são superficiais, as flores, seres passageiros se vão em apenas dias, porém, suas bases são raízes fincadas ao chão. A florada é efêmera, e seu tempo de vida se seguir o fluxo natural é de idas e vindas, de flores e seca.
As flores são frágeis ao toque, se deixam levar pelo afeto, pelo sentir. Perdem suas pétalas e renascem em outra estação. Já o concreto, tão certo de sua invulnerabilidade é destruído por marretadas e se desfaz em pedaços, não tendo a capacidade de por si só juntar seus pedaços.
Trazendo uma analogia a existência humana, as vezes sinto que estamos buscando supra homens, seres corajosos e inabaláveis, que escalam montanhas orgulhosos de suas conquistas individuais. Esquecendo que mesmo ao escalar uma montanha há o toque com a rocha, não estamos nunca isolados do mundo..
As mulheres antigamente símbolos da delicadeza e fragilidade, assumiram uma postura de fortaleza para alcançarem seu espaço ilusório de igualdade. Revestiram-se de camadas e esconderam bem lá no fundo seus sentimentos, em uma gaveta que me aterrorizo em pensar que talvez não encontremos mais a chave que destrave outros sentimentos e afetos além da super proteção.
Não sou crítica a esta postura e nem antifeminista, pois esses acontecimentos foram necessários, precisávamos de voz além da lista de compra, e afazeres do lar.
Meu olhar vai aos polos, quando apenas uma forma de ser e estar é considerada moralmente aceita. Não elejo nem essa época melhor nem as anteriores, ambas parecem generalizar. Aprecio o abraço ao todo, ao ser forte em suas essência, e frágil por deixar-se embalar pelo mundo.

Delicado para mim, é aprender a sentir o toque do mundo, não como apenas uma ofensa, ou bulling, deixar-se envolver por ele, banhar-se pelo homem e outros seres.
Andressa Giacomini

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Efêmeras felicidades

foto "Colhida no jardim de um amigo"
Felicidade para mim não é um acontecimento único, intacto, me esperando no fim do arco-íris, com um prazo marcado. Mas sim, vários prazeres distribuídos em meus dias, oscilando entre a calmaria e a tempestade. 
São efêmeras minhas felicidades, e sua brevidade é que me enchem de espera e me fazem devorá-las oras calmamente oras cheia de pressa.
Que graça haveria se eu fosse feita só de felicidade? Onde a tristeza entraria e faria a sua parte, de amiga e conselheira íntima? A felicidade não pede reflexão ela só vem e ordena a vivência do momento. 
Ah! e a tristeza, essa sim ensina, me coloca frente a frente comigo, com minha parte mais dolorida. Ela ensina calma, escuta, traz o  retorno a mim mesma, o contato com o interior, para assim criar asas novamente.
Minhas felicidades possuem um toque de melancolia e nostalgia, sendo a junção das alegrias e tristezas. As reuni nesse texto a fim de eternizá-las nem que for por um momento. 

Efêmeras felicidades

Acordar cedo e sentir o cheiro de café invadindo meu quarto.
Pão na chapa, queijo fresco, 
manteiga derretendo no bolo quentinho feito pela minha irmã, coberto com amor.
Café com leite, 
Devaneio na janela,
Viajar sendo acompanhada pela música, 
Dançar pela casa,
caminhar sozinha,
Passar minutos a fio, olhando meus livros, sendo abraçada por eles,
Contato, cheiro de pele
Estudar o que gosto
Encontrar preciosidades no brechó
Descobrir algo no caminho que faço diariamente
Cheiro de planta,
Admirar as flores,
Ficar acordada até tarde, sem compromisso no dia seguinte.
Vislumbrar o céu, de manhã, a tarde, fim de tarde, noite...
Desembrulhar um livro novo,
ir a caça de filmes e chocolates,
Dormir a tarde,
Rimas infinitas em meu caderno,
Linhas em branco no diário,
Ganhar um livro ilustrado,
beijo roubado
e momentos de interrogação? onde falta a resposta... e a porta aberta é o que me toca...

Andressa Giacomini
.....

terça-feira, 5 de julho de 2016

Adeus a um amigo Ipê

Uma lembrança
Toda vez que ouço que mais uma árvore será cortada, tento infelizmente ignorar meus sentimentos de raiva que subitamente emergem, por imaginar que não tenho poder de mudança frente a esse problema =“ a falta de valorização do que é essencial a nossa existência: a natureza”. Sou apenas mais uma nessa vastidão de pessoas e não consigo saber de todas as árvores cortadas, apenas para o falso deleite humano do progresso, e da limpeza urbana.
Os relatos são dos mais diversos, “vou arrancar uma árvore porque está estragando a minha calçada”, a minha dúvida é por que cimentou ao redor da árvore? Não sabe que a mesma precisa de espaço para firmar suas raízes, ocupar seu espaço. “Em outro caso há a desculpa da sujeira das flores, das folhas, da terra”, quem produz a sujeira somos nós ao descartar embalagens em todo o lugar, o que cai de uma planta rapidamente se transforma, não prejudica, só traz benefícios ao solo ( quando não há apenas cimento).
A natureza é aclamada na fotografia, em vídeos e em outras mídias. Nas redes sociais todo mundo ama os animais e o verde, mas percebo que em suas ações diárias demonstram uma divisão entre os homens e outros seres vivos e não vivos.  Um exemplo é a questão dúbia da sustentabilidade, “sou sustável porque compro um produto de embalagem reutilizada, porém não sou capaz de olhar o que minha rua traz, e doa-me diariamente”.
Faço esse desabafo, pois, mal começou a semana e fui informada sobre a futura morte de duas árvores ao redor de minha casa. Uma delas minha irmã e eu conseguimos impedir, mas, o ipê rosa florido que encanta meu caminho provavelmente se vai, por causa da construção de uma garagem.
É difícil não sentir indignação pela morte de uma árvore que durou anos para chegar ao seu ápice, para dar lugar a uma construção humana. O incrível é ouvir a alegação de que a árvore não está adequada ao local. Mas qual é o local adequado de uma árvore? Só pode ser fora da humanidade.
Rubem Alves em uma de suas crônicas reverencia os Ipês, árvores que no inverno vão ao inverso, enquanto outras plantas dormem, elas corajosamente desabrocham e invadem as cidades, os campos com seu charme. De longe é possível vislumbrar sua beleza que voltará apenas no próximo inverno. “Os ipês são uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom se pudéssemos nos abrir para o amor no inverno...”( Rubem Alves)
O engraçado é pensamos em nossa imunidade frente à natureza, e cada vez mais nos esquecermos, e distanciarmos de nossa composição também, somos naturais, natureza. Progresso seria voltarmos às coisas simples, aprendermos a olhar a finitude dos seres. Não há eternidade para nós, não espere as férias chegar para ir à praia, ou rancho e dizer que está em contato com a natureza, em um lugar afastado do seu cotidiano.
Perante a futura morte do meu amigo ipê, sinto que o que posso fazer é dizer um adeus e agradecer pela sombra no verão, e beleza no inverno. 
Andressa Giacomini

terça-feira, 21 de junho de 2016

Marcas evidentes

A umidade revelava o absorver de água que aquela parede era capaz de aguentar. Inchada, o mofo sinalizava o que já não conseguia ocultar.
Não havia farsas, camadas de pinturas, papel de parede florido, móveis decorados que tirassem o foco de suas marcas, ressaltadas, descascadas pela ação do tempo.
E como era bonito, harmônico, quando o mofo, as cascas ganhavam asas e dançavam pela sala. Sem medo ganhavam formas, e aceitavam sua mutação de uma parede lisa ao constante desmanche dos dias.
Andressa Giacomini

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O Quadro

  foto via We heart it

Pincelava o quadro como fazia na vida, com repetitivos movimentos de vai e vem.
Sentia que a  imagem intacta na tela movimentava-se mais do que seu dia e brandia tantos alvoroços como nenhuma festa fazia.
Ela contemplava a pintura com meia xícara de café, o quimono percorria suave em seus braços nus, calmos, soltos, entregues naquela viagem interna para dentro do quadro.
Sem perceber deixou o dia lá fora, as buzinas dos carros, o mundo com seus barulhos e ditados pelo puro prazer de entregar-se ao momento, a experiência na tela.
Andressa Giacomini

terça-feira, 7 de junho de 2016

Pausa


Após mais uma tarde de trabalho, na correria dos afazeres e no compasso do relógio , caminhei de volta para casa. O trajeto parecia o mesmo de ontem, anteontem, exceto pela pausa no caminhar.
Subitamente meus pés travaram e não pude sair do lugar. Foi então que meus olhos pregados ao chão, subiram ao encontro do céu.Os pensamentos voltados ao possível descanso no futuro ,deram espaço ao voo dos pássaros, ao céu amarelado, ao horizonte esverdeado.
Um frio percorreu minha barriga, um choque realmente físico de que tudo se vai. Já diz o bordão do senso comum " tudo passa", a "única certeza da vida é a morte".
A morte do dia, da rima, da melodia, da minha vida, do amor, da dor, de tudo que pulsa. E quando o universo deixar de expandir, apenas o tempo continuará a vagar. Com ele não há pausa, volta, avanço, apenas o deixar rolar.
 

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