quarta-feira, 30 de março de 2016

Cartas a um jovem poeta: Rainer Rilke


Aventurar-me-ei na procura de instigar vocês leitores a experimentarem “Cartas a um jovem poeta”, escritas pelo poeta da língua alemã Rainer Maria Rilke.  Este livro é breve em quantidade de folhas e enorme de significados e poesias.
No começo do século XX, Rilke correspondeu através de cartas com um jovem estudante que estava vivenciando a angústia frente à escolha profissional. O mesmo buscava uma resposta imediata para livrar-se da tensão em lidar com o incerto, com a falta de solução e bambeava sua dúvida entre a carreira militar e a de poeta.
Ao escrever a Rilke que na época já era poeta, o jovem a princípio buscou um respaldo para confirmar a sua escolha. Porém, durante os anos que corresponderam, Rilke foi descontruindo a necessidade de ter apenas uma resposta e aventurou o jovem a permanecer na incerteza e com paciência começar a questionar-se e consequentemente se conhecer.
Diante da dúvida, Rilke não esboça um caminho a seguir, e sim introduz o jovem a pensar mais sobre a escolha singularizando-a, ao banhar-se em sua solidão e no silêncio da madrugada encontrará acolhimento para olhar mais para si. Como escreveu o poeta:
“O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não deveria fazer. Ninguém pode aconselhá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele de escrever, comprove se ele estende as raízes mais profundas do seu coração... Pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa da madrugada: preciso escrever¿ Desenterre-se de si mesmo uma resposta profunda” (RILKE, pq.25).

Acredito que o livro não é simplesmente destinado a futuros poetas, já que a poesia não está apenas em versos publicados em livros e sim na forma de compreensão da existência humana. Por isso, ao olhar novamente o título da obra, penso que a mesma é para todos nós que vivenciamos a existência humana além do acúmulo de informações e de explicações.
Um jovem poeta é quem está experimentando olhar ao avesso, pela poesia. A palavra poesia vem do grego “poiesis” e significa criação. Para Pompéia; Sapienza ( 2013), poesia é trazer a luz, desocultar, não pela razão e argumentações do cotidiano, mas em tudo o que sentimos sem explicações objetivas. Os autores citam um trecho de Platão abrangendo o significado de poesia.
“ Como saber, “ poesia” é um conceito múltiplo. Em geral se denomina criação ou poesia a tudo aquilo que passa da não-existência à existência. Poesia são as criações que se fazem em todas as artes. Dá-se o nome de poeta ao artífice que realiza essas criações” ( 2013, p. 157).

Precipitadamente partimos do parâmetro do outro para avaliar as nossas próprias escolhas, Rilke parte do inverso, de trazer o questionamento para se autoconhecer, afastando-se pela solidão dos murmúrios coletivos que acabam nos desviando de decisões mais autênticas.
Sensivelmente este poeta alemão me acolheu durante a leitura, principalmente pelo momento em que estava passando quando li. As incertezas após a graduação estavam pairando sobre mim, em relação ao mercado de trabalho, ao que quero realmente fazer e seguir, mas, com paciência estou quebrando alguns paradigmas e abraçando o mistério do incerto, ou seja, deixando florescer.
Fecho esse post, com mais um trecho do livro para que com paciência possamos nos apoderar de nós mesmos.
“Gostaria de lhe pedir da melhor que maneira que posso, meu caro, para ter paciência em relação a tudo o que não está resolvido em seu coração. Peço-lhe que tente ter amor pelas próprias perguntas, como quartos fechados e livros escritos em língua estrangeira.

Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não poderia vivê-las. E é disto que se trata de viver tudo. Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, em um belo dia, sem perceber, a viver as respostas.” ( RILKE, p.43)
Andressa Giacomini

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